[Resenha Nacional] O escravo de Capela

em 21 de nov. de 2018

Título: O escravo de Capela
Autor: Marcos Debrito
Editora: Faro Editorial
Ano: 2017
Páginas: 288
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Classificação: 
Sinopse: Durante a cruel época escravocrata do Brasil Colônia, histórias aterrorizantes baseadas em crenças africanas e portuguesas deram origem a algumas das lendas mais populares de nosso folclore.Com o passar dos séculos, o horror de mitos assustadores foi sendo substituído por versões mais brandas. Em “O Escravo de Capela”, uma de nossas fábulas foi recriada desde a origem. Partindo de registros históricos para reconstruir sua mitologia de forma adulta, o autor criou uma narrativa tenebrosa de vingança com elementos mais reais e perversos. Aqui, o capuz avermelhado, sua marca mais conhecida, é deixado de lado para que o rosto de um escravo-cadáver seja encoberto pelo sudário ensanguentado de sua morte. Uma obra para reencontrar o medo perdido da lenda original e ver ressurgir um mito nacional de forma mais assustadora, em uma trama mórbida repleta de surpresas e reviravoltas.
    
     Eu sou uma grande amante de livros nacionais e como ainda não tinha lido nada do Marcos DeBrito resolvi começar com "O escravo de capela" e posso dizer que acertei em cheio na escolha.
      A trama tem como pano de fundo o Brasil Colônia na época da escravidão, e se passa na fazenda Capela onde residem os Cunha Vasconcelos e a família é composta pelo pai Antônio Batista e seus filhos Antônio Segundo e Inácio. Eles eram conhecidos na região como os maiores produtores de açúcar e também pelo jeito cruel de lidar com seus escravos. Vamos conhecer também Sabola, um novo escravo que chega à fazenda e não compreende a língua e nem a nova rotina que é obrigado a seguir e por causa disso é severamente açoitado por Antônio Segundo, que pretendia aplicar-lhe uma lição. E é assim que Sabola começa a planejar sua fuga com a ajuda de um escravo antigo da fazenda, mas o destino acaba sendo cruel com o jovem escravo. E assim começa uma onda de eventos sobrenaturais que assustam a todos, e uma vingança sangrenta que está prestes a começar.


      O livro me prendeu do começo ao fim e eu simplesmente não conseguia largar. A trama é aterrorizante e a crueldade que é retratada me deixava numa agonia sem tamanho. O autor soube como usar essa triste referência histórica e unir ao nosso folclore, nos mostrando a figura do Saci vingativo que tinha como companheira para aterrorizar os senhores e capatazes, a mula sem cabeça.
     Os personagens foram muito bem desenvolvidos e podemos acompanhar os Cunha Vasconcelos bem de perto ( e com muita raiva): Antônio Batista tenta cuidar da fazenda e deixa sua filho Antônio Segundo responsável pelos escravos e pelos capatazes. O rapaz é uma figura extremamente sádica, que tem como prazer açoitar e aplicar castigos e seu sonho é ter a fazenda só para ti quando o pai morrer. Já diferente do irmão, temos Inácio que é estudante de medicina que mora na Europa e vem passar um tempo na fazenda, mas é totalmente contra o tratamento que a família oferece aos escravos porém se beneficiou desse sistema sendo bancado pelo pai enquanto estava Brasil afora. Do outro lado podemos acompanhar também os escravos,e de como suas vidas eram sofridas e muitos deles apenas cumpriam as ordens e já nem sonhavam mais com a liberdade. Sabola não se encaixava nessa vida e planejava sua tão sonhada fuga mas teve um terrível destino quando foi pego pelos patrões.
       
      O livro tem uma escrita simples e direta, que nos prende e não faz muitas enrolações ao longo da trama. O autor é direto nos acontecimentos e soube muito bem contextualizar a história da época escravocrata de uma maneira que nos atinge completamente. Como meu primeiro contato com o a escrita de Marcos, posso dizer que ele me envolveu e me ganhou logo no começo.
    A faro editorial também está de parabéns pela edição lindíssima! O livro é separado por capítulos muito bem ilustrados e a borda das páginas é vermelha, que nos lembra o quanto a trama é sangrenta.
        Se você quer uma leitura nacional que vale muito a pena, essa é minha indicação. O livro tem muita história e uma incrível união com nosso folclore tendo como resultado uma trama com um fundo sobrenatural, aterrorizante e bastante sangrento e ainda nos faz voltar e reviver a terrível época da escravidão.

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